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Episódios de vômito em bebês pequenos: quando pensar em estenose hipertrófica do piloro?

O que é estenose hipertrófica do piloro?

A estenose hipertrófica do piloro (EHP) é uma condição que afeta apenas bebês pequenos, caracterizada por um espessamento anormal da musculatura do piloro, estrutura que envolve a passagem entre o estômago e a primeira porção do intestino.

Normalmente, o alimento passa pela região do piloro sem qualquer dificuldade. Contudo, na EHP, como a musculatura é muito grossa, pode haver obstrução dessa passagem, impedindo parcialmente ou totalmente o trânsito do alimento do estômago para o intestino, o que leva a vômitos após as mamadas.  

A EHP acontece com frequência?

A EHP é um quadro incomum, que acontece em cerca de 3 a cada 1.000 crianças nascidas vivas.

Quais são as causas da EHP?

A causa da EHP ainda não está bem esclarecida e provavelmente é multifatorial, abrangendo tanto predisposição genética quanto fatores ambientais. Algumas condições que aumentam o risco de EHP são prematuridade, primeiro filho, gênero masculino, tabagismo materno durante a gravidez, uso de mamadeira com fórmula nos primeiros meses de vida e tratamento precoce com alguns tipos de antibióticos.

O que um bebê com EHP apresenta?

As crianças com EHP parecem completamente saudáveis ao nascimento. Por volta da segunda até a sexta semana de vida, ou seja, antes de completados dois meses, começam a apresentar vômitos, geralmente em jato, que caem longe da boca, e ocorrem cerca de 30 a 60 minutos após a mamada.

O bebê parece estar sempre com fome e quer mamar de modo insaciável. Devido aos vômitos, pode ainda apresentar sinais de desidratação e, nos casos em que se demora para fazer o diagnóstico, de desnutrição, entre outras manifestações.

Em algumas crianças pode ser palpado um nódulo semelhante a uma azeitona na área superior direita do abdômen.

É preciso fazer exames de imagem para diagnosticar a EHP?

Um bebê com vômitos recorrentes precisa ser avaliado pelo pediatra. As características dos vômitos, como o padrão, a intensidade, o momento em que acontecem e a periodicidade, assim como a idade do bebê e a presença de fatores de risco auxiliam a diferenciar o quadro de outras condições muito mais comuns, como o refluxo gastroesofágico.

O exame físico também é importante e deve ser completo, incluindo o peso e a inspeção e a palpação do abdômen. A presença de nodulação palpável, que é chamada de oliva pilórica, contribui para o diagnóstico.

Diante da suspeita, a ultrassonografia do abdômen é o exame de escolha para confirmar ou afastar a condição e deve ser feita por radiologista pediátrico com experiência na avaliação do piloro e na interpretação das imagens. O método é não invasivo, confortável para o bebê e permite a localização precisa e a visualização direta da musculatura pilórica, possibilitando o diagnóstico com elevada acurácia.

O radiologista pediátrico, portanto, desempenha um papel central no diagnóstico da EHP.

A EHP tem tratamento?

Atualmente, o conhecimento do quadro e a disponibilidade da ultrassonografia têm permitido o diagnóstico precoce da EHP e o encaminhamento para tratamento cirúrgico antes da evolução com complicações associadas à desidratação e à desnutrição.

A cirurgia, chamada de piloromiotomia, tem baixíssimos índices de complicação e costuma ser curativa. Após a cirurgia, a evolução do bebê é excelente, com liberação da dieta em algumas horas, na maioria dos casos.

Referências:

  • Garfield K, Sergent SR. Pyloric stenosis. In: StatPearls. Treasure Islands: StatPearls Publishing: 2022 May 1.
  • Campos MSM, Passos RK. Obstrução pilórica. In: Tratado de Pediatria da Sociedade Brasileira de Pediatria. Burns DAR et al. 4ª edição: Manole, 2017.
  • American College of Radiology appropriateness criteria for vomiting in infants up to 3 months of age – revised 2020. Disponível em: https://acsearch.acr.org/docs/69445/Narrative/ Acessado em 23 de setembro de 2022.
  • Olivé AP, Endom EE (2020). Infantile hypertrophic pyloric stenosis. In: Jonathan I Singer, MD, B UK Li, MD (Ed.), UpToDate. Acessado em 23 de setembro de 2022.
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Dr. Rodrigo Ragazzini

Professor adjunto e chefe da disciplina de diagnóstico por imagem em pediatria na EPM/UNIFESP.

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