O que é linfonodomegalia?
Os linfonodos – que chamamos também de gânglios – são pequenos tecidos encapsulados que possuem uma estrutura interna muito organizada e estão envolvidos na defesa do nosso organismo contra agentes estranhos, como vírus e bactérias.
O corpo humano possui mais de 500 linfonodos, que se distribuem por diversas regiões, alguns mais superficiais, que quando aumentados podem ser palpáveis, e outros mais profundos. Além disso, outras estruturas fazem parte desse sistema de defesa, como o baço, as amígdalas e as adenoides.
Linfonodomegalia é o termo usado para caracterizar a identificação de qualquer linfonodo de tamanho aumentado, o que pode se associar a outras alterações, como mudança na sua consistência e em seu aspecto. Ademais, a linfonodomegalia pode representar o aumento de um único linfonodo ou de vários no mesmo local ou, ainda, de linfonodos em locais diferentes do corpo.
Nas crianças saudáveis, é comum conseguirmos palpar alguns linfonodos, especialmente no pescoço, na axila e na virilha, que, em condições normais, costumam ter menos de 1 cm de diâmetro. Como o aumento dos linfonodos se dá, geralmente, pela proliferação de células do sistema imunológico no seu interior e as crianças são muito expostas a vírus e bactérias, é frequente observarmos aumento e diminuição desses gânglios na população infantil, sem que isso seja motivo de preocupação.
É preciso avaliar a criança com linfonodos aumentados no pescoço?
A linfonodomegalia no pescoço ou cervical é uma condição muito comum na infância. Um estudo prévio mostrou que aproximadamente 40% das crianças saudáveis têm linfonodos palpáveis no pescoço.
Contudo, apesar de a grande maioria dos casos estar associada a uma causa benigna e passageira, o diagnóstico correto da linfonodomegalia é fundamental para afastar doenças graves que podem se manifestar com aumento dos gânglios. Dessa forma, diante do quadro, a avaliação com o pediatra é sempre importante.
Quais são as principais causas de linfonodomegalia cervical?
A causa mais comum de linfonodomegalia cervical são as infecções virais. Nesses casos, é frequente que a criança tenha outros sintomas como febre de curta duração, manifestações respiratórias, dor de garganta ou de ouvido, entre outros. A linfonodomegalia causada por infecções dessa natureza é chamada de reacional ou inflamatória e, geralmente, se resolve espontaneamente com a melhora da virose.
Já alguns vírus específicos como o Epstein-Barr – relacionado à mononucleose – e o citomegalovírus podem levar a um aumento mais proeminente e de duração mais prolongada dos gânglios do pescoço, mas não requerem intervenções adicionais.
As infecções bacterianas do linfonodo, que chamamos de linfadenite, configuram a segunda causa mais comum de linfonodomegalia cervical. Nesses casos, costuma haver febre e alterações na própria região do linfonodo como dor, calor e vermelhidão. Ao contrário dos quadros reacionais, a linfadenite geralmente não melhora espontaneamente e precisa de tratamento antibiótico. A principal complicação das linfadenites é a formação de abscessos.
Outras causas são mais raras, mas por serem mais graves, devem ser sempre pensadas e afastadas, como a toxoplasmose, a doença da arranhadura do gato, a tuberculose, doenças autoimunes e alguns tipos de câncer. Alguns cistos congênitos também podem se assemelhar a um gânglio aumentado e confundir o diagnóstico.
Como é feita a avaliação da linfonodomegalia cervical?
O recurso diagnóstico mais importante na avaliação da linfonodomegalia cervical é uma história médica detalhada e um exame físico minucioso feitos pelo pediatra (ver quadro). O principal objetivo dessa avaliação é distinguir os casos tipicamente benignos e transitórios daqueles que precisam de tratamento medicamentoso e dos que são de risco para uma doença mais grave e requerem investigação aprofundada.
O que o pediatra costuma avaliar diante de gânglios aumentados no pescoço?
Na história médica, algumas informações são muito importantes, como:
- Idade da criança
- Contato com pessoas doentes
- Duração do aumento dos linfonodos
- Se há variação no tamanho dos gânglios
- Se a criança passou por algum tratamento recente
- Se houve viagem ou contato com animais
- Presença de sintomas como febre, tosse, dor de garganta, dor de ouvido, perda de peso, fadiga, sudorese, hematomas frequentes em locais não usuais, entre outros
No exame físico, o pediatra vai observar:
- Tamanho, aspecto e localização dos gânglios
- Alterações na pele na região do gânglio como vermelhidão, edema e calor
- Se há dor à palpação
- Se há lesões ou machucados perto do gânglio
- Se há alteração em algum outro órgão do corpo
Os casos não esclarecidos na consulta inicial devem ser acompanhados. Alguns exames podem ainda auxiliar a determinar a causa e, especialmente, a afastar doenças mais graves, como exames de imagem, a exemplo da ultrassonografia, e de sangue, a exemplo do hemograma e das sorologias.
Como os exames de imagem auxiliam a investigação da linfonodomegalia cervical?
Se há dúvida no diagnóstico ou necessidade de afastar algum quadro mais grave como abscessos ou doenças malignas, os exames de imagem estão indicados e complementam a avaliação clínica.
A ultrassonografia do pescoço, direcionada para a avaliação dos linfonodos, costuma ser o exame de primeira escolha por ser um método simples e não invasivo e possibilitar, com alta acurácia, caracterizar os linfonodos em relação ao número, dimensões, forma, alterações estruturais, padrão vascular, entre outros aspectos, permitindo diferenciar um quadro inflamatório ou reacional de um linfonodo suspeito para neoplasias.
Ademais, a ultrassonografia também é útil para avaliar a presença de abscessos nas linfadenites bacterianas e para tirar a dúvida sobre outros quadros que podem se assemelhar a um linfonodo, a exemplo de cistos.
Em alguns casos mais raros, a tomografia computadorizada ou a ressonância magnética também podem ser indicadas para informações adicionais, assim como exames de imagem de outras regiões do corpo, como tórax e abdômen.
É preciso retirar o linfonodo?
Na grande maioria dos casos, não! Mas, quando há suspeita de alguma doença grave ou a história clínica e os exames de sangue e de imagem não foram suficientes para elucidar o quadro, a biópsia por excisão do linfonodo para estudo microscópico pode ser necessária.
Referências:
- Weinstock MS, Patel NA, Smith LP. Pediatric cervical lymphadenopathy. Pediatr Rev. 2018; 39 (9): 433-443.
- Kartal Ö, Atas E, Gürsel O. Differentiation of benign from malignant cervical lymphadenopathy by ultrasonography in children. Arch Argent Pediatr. 2020 Feb; 118 (1): 11-17.
- Linfonodomegalia periférica na criança e no adolescente: quando pensar em câncer. Documento científico do Departamento Científico de Oncologia da Sociedade Brasileira de Pediatria. Número 3, Julho de 2019.
- Andrea MLM, Daudt LE, Silva DB. Linfonodomegalias. In: Tratado de Pediatria da Sociedade Brasileira de Pediatria. Burns DAR et al. 4ª edição: Manole, 2017.